terça-feira, dezembro 05, 2006

Diálogo a Dois

- Queria dar-te um beijo, mas que trocasse, ao invés de material vulgar como a saliva, algo extremamente novo que representasse muito mais do que simples bactérias permutantes entre a minha e a tua boca. Talvez se beijássemos um o ar do outro, na tentativa de verter tudo de si: seria como uma entrega plena, não achas, afinal, o beijo nada representa se não for um auto-depósito...

- Talvez se beijássemos nossos olhos conseguíssemos imprimir a marca dos lábios na ponta mais sobressalente da alma no corpo físico...por onde o intrínseco escapa, na percepção alheia...

- Quero beijar-te, mas não sei ainda como. Sei que anseio e neste afã situacional venho construindo minha impressão subconsciente: não agüento ser prisioneiro da razão por muito tempo.

- Eu tampouco...

- Mas não parecias assim de intróito...era como se tua alma repudiasse o fato de querer coadunar-se à minha numa concepção conjunta. Aos poucos fui tecendo teus recamos, trazendo à tona uma comunhão imaculada e casta...por acaso te arrependes?

- De maneira alguma! É que nunca dantes fora assim: figura de suprema relevância para outrem. Sempre fora de mim o dono máximo, impresso no acme da minha própria natureza, figura narcísica a manter sempre a boa aparência por única razão egocêntrica; a auto-admiração. E então vejo-me cá, unido aos teus como se a existência agora fizesse completo sentido...

- E faz. A existência nada é sem o sentido. Como um livro é dependente de enredo e de sistemas cognitivos que o façam ser compreendido por demais, a existência só ganha devido status quando passa a ter algo em si que a dê sentido. Isto encontrei em ti, como quem nada procura além de algo a se espelhar...

- Então eu existo para dar sentido à tua existência e vice-versa?

- Em parte, sim. Não unicamente, mas digamos que tudo na vida tem sentidos opostos. O que bate tem necessariamente que rebater: é a Lei de Newton, meu caro! A toda ação corresponde-se uma reação! Ainda não estou certo com relação à parte da mesma intensidade, porém, vamos coagindo, como se a abóbada fosse verdadeira...

- Pois acho de extrema elegância essa lei harmônica na qual o universo se submeteu e, como somos no fundo parte dele, estamos secundariamente submetidos. Agora compreendo o real sentido da troca, ou pelo menos, acho que compreendi.

- Tenha certeza de que qualquer certeza é incerta.

- Isso é um paradoxo!

- A vida, meu anjo, é um paradoxo...

4 Comments:

Blogger Guto Lobato said...

fala marcelo!

po, nuna minha tinha tido tempo de passar pelo meu blog e visitar o teu, e qual minha surpresa ao chegar aqui e me deparar com (mais) uma avalanche de excelentes prosas, emocionantes poesias e ainda mais bem-sacadas rimas? =)

na verdade, nem há surpresa, cara, tu és foda! (no melhor sentido da palavra hehehehe)

abraços marcelo! passa pelos meus qnd der! parabéns especialmente para "a solidão"... =D

8:15 PM  
Blogger Ju said...

Oi Celo!!!

Saudade de vc. Finalmente de férias!! uhuuu

Oxi, beijar qualquer parte do outro já é de grande valia pra mim, mesmo a pontinha do dedo, da mão né, pq do pé já é avançadinho demais pra começar...

Aparece aí pra gente conversar.

Bjuu!

4:16 PM  
Blogger Thiago Ponce de Moraes said...

Opa.

Ora vai o meu email: poncedemoraes@gmail.com

Façamos o evento na UERJ.
Nos falamos.

Abraços;

Ponce.

9:16 AM  
Blogger Lua said...

É essa a conclusão a que chego todos as vezes que me questiono sobre o mundo. Tudo é relativo, a execeção da luz salva por Einstein.

Boas festas de fim de ano carióca!

beijocão.

e ah, saudade das intermitentes conversas.

2:39 PM  

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